FÍSICA III
L.E.Gestão I.
Professor responsável: PEDRO ABREU

Resolução do 2º Exame e 2º Teste
2001/02/17, 9h00
Duração: 2h30 (Exame) ou 1h30 (Teste: só 3, 4 e 5)

Constantes e propriedades úteis
Carga do electrão 1.6 x 10-19 C 1 eV/c2 1.78 x 10-36 Kg
Massa do electrão 9.1 x 10-31 Kg Constante de Planck 6.626 x 10-34} Js
GN 6.673x10-11 m3 kg-1 s-2 T.Gauss para G: SG.ndS= - 4 GN Mint
MT 5.97x1024 Kg RT 6.376x106m
Superf.cubo 6a2 Volume cubo a3
Superf.cilindro 2 rL+ base ( r2)+topo( r2) Volume cilindro r2 L
Superf.esfera 4 r2 Volume esfera 4/3 r3
i=1N sen(2 x/ + i.2/N) = 0 dif. de fase = 2/N <=> d = /N

(4.0) 1)

Considere o planeta Terra como uma esfera homogénea de densidade =3MT/(4 RT3)= 5.5 x 103 kg/m3 (desprezando a atmosfera).

(2.0) a) Qual a força sentida por uma massa de 1 kg, e o valor da sua Energia Potencial (admitindo que infinitamente longe esta seria nula), em função da distância ao centro, r?

Possível resolução:
A Força é o produto do campo gravítico pela massa. Assim a força sentida por uma massa de 1 kg, é igual ao valor do campo gravítico (com o mesmo sentido). O campo gravítico tem a direcção radial, e aponta para o centro da Terra. O valor do Campo gravítico G= Ger (G<0) pode calcular-se usando o Teorema de Gauss:

G.n dS = - 4GNMint

Escolhendo uma superfície esférica concêntrica com a Terra, de raio r em que o campo é constante e anti-paralelo à normal à superfície, o integral ao longo dessa superfície tem o valor
G.n dS = 4 r2 G = (T.Gauss)= - 4GNMint <=> G = - GN/r2 Mint <=>

0 <= r < RT :       Mint = (4/3)r3 = r3 MT/(RT3) <=> G = - GN MT/(RT3) r
r > RT :       Mint = MT <=> G = -GN MT/r2

Para calcular a energia potencial, usamos as expressões

EP = m VG = -m G.dr

para as duas regiões diferentes. Resolvendo os integrais indefinidos, ficam duas constantes a determinar pela condição fronteira VG(r = ) = 0, e pela necessidade de continuidade do potencial para r = RT.
Assim, temos:
r > RT :       - G.dr = - GN MT/r + Cte = - GN MT/r (pois VG(r = ) = 0) => VG(r = RT) = - GN MT/RT
0 <= r < RT :       - G.dr = - GN MT/(RT3 ) r2/2 +Cte
e VG(r = RT) = - GN MT/RT
=> VG = - GN MT/(RT3 ) r2/2 - GN MT/(2 RT)

(1.0) b) Se a massa da Terra estivesse distribuída em camadas homogéneas, de densidades respectivamente iguais a

0 <= r < 4 x 106m = 1 = Cte = 1.5 x 104 kg/m3
4 x 106m <= r < 6 x 106m = 2 = Cte = 2.8 x 103 kg/m3
6 x 106m <= r < RT = 3 = Cte = 9.4 x 102 kg/m3

qual seria o valor do campo gravítico em função da distância ao centro da Terra (módulo, direcção e sentido)?

Possível Resolução:
A direcção e sentido de G seria sempre radial e apontando para o centro da Terra, Gi=-Gi(r ) er. Mas agora há que separar as diferentes regiões:

1:     0 <= r < 4 x 106 m:   - G1 . 4r2 = - 4GN(4/3) 1r3 <=> G1 = - 4.19 x 10-6 r (m/s2)
2:     4 x 106 m <= r < 6 x 106 m:   - G2 . 4r2 = - 4GN Mint = - 4GN (M1 + 2 . Vol2(r ) ) =
    - 4GN [(4/3) . (4 x 106)3 . (1 - 2) + 2 . (4/3) r3 ) ] <=>
   G2 = - 2.18 x 1014/r2 - 7.83 x 10-7 r (m/s2)
3:     6 x 106 m <= r < RT :   - G3 . 4r2 = - 4GN (M1 + M2 + 3 . Vol3(r ) ) =
    - 4GN [(4/3) . (4 x 106)3 . (1 - 2) + (4/3) . (6 x 106)3 . (2 - 3) + 3 . (4/3) r3 ) ]
   <=> G3 = - 3.31 x 1014/r2 - 2.63 x 10-7 r (m/s2)
4:     r > RT ( = 6.376 x 106 m) :   - G4 . 4r2 = - 4GN Mint <=> G4 = - 3.98 x 1014 / r2 (m/s2)

(1.0) c) Nas condições do problema anterior, qual seria a energia potencial de uma massa de 1 kg em função da distância ao centro (admitindo que seria nula infinitamente longe da Terra)?

Possível Resolução:
Nas 4 regiões, VG obtém-se de

Vi = - G.dr + Ci

em que Ci são constantes a determinar pelas condições fronteira, e a Energia potencial para uma massa de 1 kg obtém-se de
EP = m Vi = (1 kg.)Vi.

As condições fronteira resumem-se à necessidade de continuidade da função potencial, e ao dito no enunciado que V(r -> ) = 0.
Comecemos então pela região 4, para utilizar este dado inicial:
V4 = - 3.98 x 1014 /r + C4 = - 3.98 x 1014 /r (J/kg) (C44 = 0 quando r = )
V3 = - 3.31 x 1014/r + 1.32 x 10-7 r2 - 1.6 x 107 (J/kg),
em que a constante adicionada provém da condição V3(r = RT) = V4(r = RT).
V2 = - 2.18 x 1014/r + 3.92 x 10-7 r2 - 4.4 x 107 (J/kg),
em que a constante adicionada provém da condição V2(r = 6 x 106 m) = V3(r = 6 x 106 m).
V1 = 2.1 x 10-6 r2 - 1.26 x 108 (J/kg),
em que a constante adicionada provém da condição V1(r = 4 x 106 m) = V2(r = 4 x 106 m).

(4.0) 2)

Um comboio com velocidade constante v=30 m/s precorre uma região em que existe um fortíssimo campo magnético B=20 T (sempre perpendicular ao chão e orientado de baixo para cima). Suponha que ligando os carris algures muito à frente do comboio, está colocada uma barra condutora, de resistência desprezável (despreze também a resistência eléctrica dos carris, distanciados entre si de 1 m). Admita que os eixos das rodas do comboio são todos fracamente condutores, cada conjunto de 1 eixo e duas rodas com resistência R=16, e que este comboio é constituído por uma locomotiva automotora diesel e 3 carruagens, cada uma com 4 eixos.

(1.0) a) Se substituísse todos os eixos do comboio por um único eixo, qual teria de ser a sua resistência eléctrica equivalente?

Resposta possível:
Todos os eixos estão ligados em paralelo pelos carris, portanto a resistência equivalente é dada por

Req = 1 / (i(1/Ri)) = 1/(16/R) = R/16 = 1

(1.5) b) Qual a variação no tempo do fluxo magnético que atravessa a área englobada pelo circuito fechado constituído pelos carris, a barra sobre estes e os eixos do comboio (despreze o comprimento do comboio)?

Resposta possível:
A área englobada pelo circuito [barra condutora fixa + 2 carris + eixo(s) do comboio], num instante t em que a distância do comboio à barra fixa é X, é dada por lX (l é a distância entre os carris = 1 m), e o fluxo nesse instante, é dado por BlX. A variação no tempo do fluxo do campo magnético, é dada por

d (BlX) /dt = Bl dX/dt = Blv = 20T.1m.30m/s = 600 Tm2/s = 600 V(volt).

(1.5) c) Qual a intensidade, direcção e sentido da corrente induzida pelo movimento do comboio nos carris?

Resposta possível:
O fluxo diminui, por isso o sentido da variação do fluxo é contrário ao sentido do próprio fluxo, isto é, contrário ao sentido de B. A corrente induzida tem de ter um sentido tal que produza um campo Bind induzido com o mesmo sentido de B. Pela regra do produto externo (ou da mão direita), o sentido da corrente induzida tem de ser, no circuito visto de cima (sentido de visão contrário ao de B), o sentido directo ou contrário ao dos ponteiros do relógio.

O módulo de i é dado pela razão entre a força electromotriz e R, e a primeira é dada pela variação no tempo do fluxo do campo magnético, calculado na alínea anterior:

i = 600/R = 600 A.

(4.0/6.0) 3) Uma película de Fluoreto de Magnésio, de índice de refracção n=1.38 e espessura d=0.1m, cobre uma lente de uma máquina fotográfica, de índice de refracção nL=1.7. Considere sempre incidência normal.

(1.0/1.5) a) Qual o comprimento de onda para o qual a intensidade reflectida é máxima (primeiro máximo)? E qual o comprimento de onda para o qual essa intensidade é mínima (primeiro mínimo)?

Resposta possível:
Ambas as 2 ondas reflectem em meios mais densos (película de MgF2 (=MF) mais densa do que o ar, e lente mais densa do que MF), portanto ambas são reflectidas em oposição de fase. A diferença de fase entre elas é devida apenas à diferença de percurso, 2nd (sendo d a expessura de MF, e tendo em conta a alteração do comprimento de onda com o índice de refracção n).
Temos o primeiro máximo de intensidade (m=1), quando houver interferência constructiva, ou que
2nd = m, isto é, quando = 2nd = 276 nm.
Temos o primeiro mínimo de intensidade (m=0) quando 2nd = (m+0.5) <=> = 4nd = 552 nm.

(3.0/4.5) b) Cai uma gota de óleo, de índice de refracção n=1.5, cobrindo uniformente a lente (isto é, que cobre a película sobre a lente).

(1.5/2.0) i) Qual o maior comprimento de onda que permite obter a onda reflectida mais intensa (note que será o resultado da soma de 3 ondas reflectidas)? Nestas condições qual a espessura da camada de óleo?
(1.5/2.5) ii) Qual o maior comprimento de onda que permite obter a onda reflectida menos intensa (resultado da interferência globalmente destrutiva de 3 ondas - consulte cabeçalho)?

Possível resposta:
Temos agora a soma de 3 ondas, que interferem globalmente de forma totalmente construtiva (para um máximo de intensidade), totalmente destructiva (para um mínimo de intensidade), ou de forma parcialmente constructiva ou destructiva (para uma intensidade variável). Duas dessas ondas reflectem em meios mais densos, portanto em oposição de fase, e a terceira reflecte na superfície de separação óleo-MF, e não sofre essa alteração de fase (pois MF é menos denso do que este óleo).

i) Para obtermos intensidade máxima, todas as ondas têm que chegar em fase! Entre a onda que reflecte no óleo e a que reflecte na lente, a respectiva diferença de fase deve-se apenas à diferença de percurso: 2nol + 2nd (em que no é o índice de refracção do óleo e l é a espessura do óleo). Se esta for igual a 1. (m com m>1 corresponde a comprimentos de onda menores e pretende-se o maior comprimento de onda), essas duas ondas estarão em fase, à chegada ao detector.
Entre a onda que reflecte no óleo (que reflecte em oposição de fase) e a que reflecte na MF (que não sofre alteração de fase na reflexão), a diferença de fase é +d.p., em que d.p. é a diferença de fase devido à diferença de percurso. Para essas duas ondas chegarem em fase, temos que ter d.p.=, que corresponde a uma diferença de percurso de /2: 2nol = /2. Temos assim duas incógnitas (l e ) e duas equações: 2nol + 2nd = e 2nol = /2. Podemos assim concluir que 2nd = /2, ou que
= 4nd = 552 nm, e l = /(4no) = 92 nm.

ii) Para termos interferência globalmente destructiva, a soma das 3 ondas à chegada tem que ser nula! De acordo com o cabeçalho da prova, temos que ter diferenças de fase de 2/N = 2/3 entre duas ondas "vizinhas". Como há 3 ondas, há 2 diferentes diferenças de fase: 2/3 e 4/3.
A onda que reflecte no MF já tem uma diferença de fase em relação a qualquer das outras, independentemente da respectiva d.p., de = 3/3. Se d.p. desta onda (em relação à que reflecte no óleo) for /3, então a diferença de fase entre as duas ondas, à chegada, será de +/3 = 4/3. Com esta d.p.=/3, podemos escrever
2nol = /6.
Em relação ao outro par (onda que reflecte na lente em relação à onda que reflecte no óleo), basta que a sua d.p.=2/3, ou que
2nol + 2nd = /3.
Com as duas equações acima podemos concluir =12 no l = 1656 nm (note-se que l já foi determinado e vale 92 nm).

(4.0/7.0) 4) Num colisionador de muões em estudo, aceleram-se estas partículas elementares primas do electrão (em tudo iguais excepto na massa, que para os muões é m=1.06 x 108 eV/c2, ~= 201 vezes a massa do electrão), até energias próximas de E=1 TeV (1012 eV).

(1.0/1.5) a) Qual a velocidade aproximada dos muões? (se não fez esta alínea, assuma nas seguintes o valor v=0.9995c)

Possível resposta:
E2 = m2c4 + P2c2, =E/(mc2) = 1/(1- 2)1/2, e =v/c=cP/E.
Assim, v = c.(cP/E)=c (E2-m2c4)1/2/E = 0.9999999888 c.

(1.0/2.0) b) Sabendo que a vida média do muão no seu referencial próprio é =2.2s, quanto tempo duram esses muões no acelerador, em média?

Possível resposta:
A vida média no refencial próprio dos muões, , é medida na Terra como o tempo T = . Com =E/(mc2) = 9434, T = 20.75 ms.

(1.0/2.0) c) Se no acelerador medíssemos o tamanho dos muões como sendo d=10-18 m, qual seria o tamanho respectivo no seu referencial próprio?

Para uma distância d medida no referencial próprio dos muões, mede-se uma distância na terra dada por :
dT = d / = 10-18 m. <=> d = 9.4 x 10d-15 m

(1.0/1.5) d) Se um muão destes falasse com frequência da onda sonora f=500 Hz, conseguiríamos nós ouvi-lo quando se dirigisse para nós (justifique)? Se sim, com que frequência?

Resposta possível:
Enquanto se dirige para nós, o muão aproxima-se com uma velocidade próxima de c, portanto muito superior à velocidade das ondas sonoras por ele emitidas, 344 m/s. Portanto o muão chega antes de qualquer onda sonora por ele emitida <=> antes dele chegar, também não chega nenhuma onda sonora <=>
Não o conseguiríamos ouvir!

(4.0/7.0) 5) Um laser de luz laranja emite num comprimento de onda aproximadamente igual a 600~nm. Considere um modelo para o laser em que os fotões são emitidos devido a transições de electrões entre os níveis de energia n=2 e n=3, numa caixa de paredes infinitas.

(1.0/1.0) a) Se um estudante da L.E.G.I. se aproximar deste laser no seu Berrari recentemente oferecido e observar luz azul (=450 nm), qual a sua velocidade?

Resposta possível:
O comprimento de onda da onda luminosa recebida pelo estudante enquanto se aproxima da fonte, ', é dado pelo efeito Döppler relativista aplicado ao comprimento de onda da onda emitida, :
' = ( (c - v)/(c + v) )1/2 <=> (450 nm)2 = 6002 (c - v)/(c + v) <=> v = c (6002 + 4502)/(6002 + 4502) = 0.28 c
(muito superior ao limite legal em autoestrada de 120 Km/h)!

(1.5/3.0) b) Qual a diferença de energia entre os níveis referidos?

Resposta possível:
Corresponde à energia do fotão emitido pelo laser = E = hf = hc/ = 3.31 x 10-19 J = 2.06 eV.

(1.5/3.0) c) Qual a largura da caixa que é compatível com este laser?

(sugestão: dentro da caixa, onde os electrões estão confinados, a função potencial U é nula! Pense na relação entre energia e momento (desprezando a relatividade), entre este e o comprimento de onda, e finalmente pense nos comprimentos de onda possíveis para uma caixa de largura a)

Resposta possível:
O modelo da caixa de paredes infinitas, obriga a função de onda do electrão a anular-se nos extremos da caixa de largura a, ou seja (analogia para uma corda estacionária de comprimento a), os seus comprimentos de onda possíveis respeitam a relação:
ne = 2 a <=> e = 2a/n
Por outro lado, e = h/P, e E=P2/2m + U. Como dentro desta caixa os electrões estão livres (U=0), vem
En= Pn2 /2m = h2/(2mn2) = h2/(2m (2a/n)2 ) = n2h2 / (8m a2).
Assim, E3 - E2 = 32 h2 / (8m a2) - 22 h2 / (8m a2) = 5 h2 / (8m a2) = 3.31 x 10-19 J (calculado na alínea anterior).
Assim, a = ( 5h2 / (8m . 3.31 x 10-19 J ) ) = 9.54 x 10-10 m.