LIP acolhe reunião da colaboração SNO+ em Lisboa
"A colaboração internacional SNO+ reuniu em Lisboa para discutir os próximos passos na busca por respostas sobre a natureza dos neutrinos. "
De 12 a 15 de março, o LIP acolheu em Lisboa a reunião da colaboração SNO+, que contou com a presença de cerca de 50 participantes. Nos dois dias que antecederam a reunião principal, decorreu um workshop dedicado aos colaboradores jovens, com sessões formativas e momentos de troca de experiências.
As reuniões da colaboração SNO+ realizam-se habitualmente no SNOLAB, no Canadá, um laboratório subterrâneo instalado a 2 km de profundidade, onde se encontra o detetor de neutrinos da experiência. A última vez que uma reunião desta colaboração teve lugar em Lisboa foi há 15 anos, numa fase em que a caverna ainda estava a ser preparada para acolher a nova experiência.
Desde então, a experiência SNO+ tem realizado medições de neutrinos de baixa energia e processos de decaimento raros, recorrendo inicialmente a um detetor Cherenkov com água ultra-pura e, atualmente, a um detetor de cintilador líquido ultra-puro.
Durante a reunião em Lisboa foram discutidos o estado atual das análises em curso, os resultados mais recentes e os planos para as próximas fases da experiência. Entre os tópicos em destaque estão as novas publicações em preparação sobre neutrinos solares, geoneutrinos e antineutrinos de reatores nucleares.
Um dos grandes objetivos da próxima fase da experiência prende-se com uma das maiores questões em aberto na física de partículas: porque é que o Universo contém matéria e praticamente nenhuma antimatéria? No modelo do Big Bang, partículas e antipartículas teriam sido criadas em quantidades iguais, mas a realidade observável é bem diferente.
A resposta a este enigma pode estar na natureza dos neutrinos — se forem as suas próprias antipartículas, isso poderá explicar o desequilíbrio entre matéria e antimatéria. Para estudar esta possibilidade, SNO+ prepara-se para procurar o raríssimo processo de decaimento beta duplo sem neutrinos, utilizando o elemento químico telúrio.
O telúrio foi o primeiro elemento em que se observou o decaimento beta duplo, em 1950. Este processo envolve a transformação de dois neutrões em dois protões, dois eletrões e dois antineutrinos. O decaimento sem neutrinos seria uma prova direta de que o neutrino é a sua própria antipartícula.
Há vários anos que SNO+ guarda 3 toneladas de telúrio natural no laboratório subterrâneo, protegidas da radiação cósmica, e está atualmente a preparar os sistemas necessários para a purificação e introdução do telúrio no cintilador líquido. Curiosamente, quando foi descoberto no século XVIII numa mina de ouro, o telúrio recebeu os nomes de "aurum paradoxum" e "metallum problematicum" — um símbolo curioso para um dos maiores mistérios da física contemporânea.