Portugal, o CERN e a Europa nas próximas décadas em discussão no CTN
"A sessão assinalou a aprovação da actualizada Estratégia Europeia para a Física de Partículas pelo Conselho do CERN. Foi uma sessão mista presencial e digital dirigida sobretudo à comunidade empresarial"
A sessão “Portugal-CERN-Europa : Ciência e tecnologias nas próximas décadas“ assinalou a aprovação da actualizada Estratégia Europeia para a Física de Partículas pelo Conselho do CERN, a 19 de Junho passado. Foi uma sessão mista, com um conjunto restrito de participantes presentes no local, o Campus Tecnologico Nuclear (CTN) do Técnico, em Loures, os quais se juntaram cerca de uma centena de participantes remotos, incluindo alguns dos oradores. Tratou-se de uma organização conjunta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do LIP, do Técnico e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), dirigida essencialmente à comunidade empresarial. A discussão das implicações da Estratégia de um ponto de vista científico será realizada num encontro de toda a comunidade portuguesa de física de partículas e nuclear no dia 28 de Setembro no Centro de Congressos do Técnico.
A sessão foi aberta por Rogério Colaço, Presidente do Técnico, e por Helena Pereira, presidente da FCT. Helena Pereira destacou o importante papel da presença portuguesa no CERN não apenas na investigação científica mas também na formação avançada, sobretudo de jovens engenheiros, e na internacionalização das nossas empresas. Sublinhou ainda "o fascínio do CERN e daquilo que o CERN representa", e a "lição de humildade" que nos dá a preparação de projectos de tão longo prazo. Rogério Colaço salientou a forma como a já longa tradição de física de partículas em Portugal, juntamento com o conhecimento e infraestruturas existentes no CTN, serão essenciais na concretização do sonho de criar um centro de terapia com protões com valências de tratamento e de investigação, com pólos no CTN e em Coimbra, “um centro de que o nosso País precisa”, e para a qual precisamos da ajuda de todos.
Seguiu-se a intervenção de Mário Pimenta, Delegado de Portugal ao Conselho do CERN e presidente do LIP, que nos levou numa viagem no tempo. Lembrou José Mariano Gago como “arquitecto da adesão de Portugal ao CERN” e da criação do LIP, e ainda generosidade do CERN para com Portugal, que permitiu que durante a primeira década o novo estado membro pagasse apenas uma fracção da sua quota, devendo o remanescente ser empregue em I&D em Portugal; lembrou o que o CERN representa hoje para Portugal e para o mundo; levou-nos depois ao futuro centro de terapia com protões, o último grande projecto de Gaspar Barreira, fundador do LIP e grande amigo do CERN recentemente desaparecido. A associação ProtoTera, criada no final de 2019, visa pontenciar a área dos tratamentos avançados do cancro com partículas em Portugal, e reúne o Técnico, o LIP, o ICNAS (através da Universidade de Coimbra) e o Grupo Hospitalar IPO.
Inês Ochoa, jovem investigadora do LIP, procurou familiarizar a audiência com as bases da física de partículas e mostrar que o CERN é o lugar ideal para prosseguir na sua descoberta. José Antão, Industrial Liaisons Officer (ILO) de Portugal no CERN, destacou que "o CERN não é uma parceiro como outro qualquer", mas que pode ter um papel importantíssimo como porta de entrada no mercado da Big Science, e também como ferramenta de marketing. O ILO detalhou ainda oportunidades concretas para as empresas nas próximas décadas, com a fase de alta luminosidade do LHC, e tendo em conta o plano de investimentos para o futuro FCC.
Seguiram-se duas intervenções remotas. João Seco, da Universidade de Heidelberg, apresentou em detalhe a terapia com protões. Fabiola Giannoti, directora-geral do CERN, falou-nos da importância desta estratégia para o CERN, para os seus países membros, e para a Europa, que só assim poderá manter o seu papel de liderança científica. Fabiola Giannoti terminou citando José Mariano Gago, que, em 2006, aquando da aprovação da primeira Estratégia Europeia numa reunião em Lisboa, afirmou:
“O próximo acelerador e o próximo centro da investigação em física de partículas devem estar na Europa. Essa é a única maneira de garantir que as pessoas mais qualificados do mundo continuam a vir para a Europa. Se, por qualquer que seja a variedade de razões, desmantelarmos ou formos coniventes com o desmantelamento do que alcançámos no CERN, ninguém compreenderá. A capacidade da Europa no campo da física de partículas estará morta por muitos e muitos anos e o desaparecimento da física de partículas teria sérias conseqüências para a ciência europeia como um todo. Posso garantir-vos que muitos de nós na Europa nunca permitirão que isso aconteça."
A prolongada reunião do Conselho de Ministros a decorrer na mesma tarde impossibilitou o Ministro da Ciência de comparecer. A sessão foi encerrada por Rogério Colaço, Helena Pereira e Bernardino Soares, Presidente da Câmara Municipal de Loures, que sublinhou o total apoio ao Autarquia ao projecto da terapia com protões.
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