Brasil torna-se Membro Associado do CERN
"Realizou-se no dia 3 de Março no CERN a cerimónia de assinatura do acordo de adesão do Brasil como Estado Membro Associado do CERN, com a presença do Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) do Brasil, Marcos Pontes"
A assinatura do acordo segue-se à aprovação por unanimidade pelo Conselho do CERN da associação do Brasil à organização, em 24 de Setembro de 2021. Apesar de ficar ainda a faltar ainda a ratificação do acordo pelo Senado Federal brasileiro, este é sem dúvida um passo importante.
É também o culminar de uma década de negociações, que se intensificaram nos últimos anos, por iniciativa do MCTI. Em 2019, o ministro Marco Pontes visitou o CERN, reafirmando o interesse do Brasil em tornar-se membro associado. Em Maio de 2021, Marco Pontes e Manuel Heitor, Ministro de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, assinaram três memorandos de entendimento, um deles na área da física de partículas, em que é reconhecido o elevado nível de cooperação científica e universitária existente entre os dois países e se pretende impulsionar essa cooperação em áreas prioritárias. Destaca-se o objectivo de coordenar e desenvolver a colaboração entre centros de investigação portugueses e brasileiros, com ênfase na participação no CERN.
O Brasil participa em grandes colaborações no CERN desde a década de 1980. A entrada do Brasil como membro associado vem abrir novas perspectivas e oportunidades em sectores como instrumentação científica, a inovação e a indústria. Actualmente, o Brasil tem grupos de cientistas e técnicos a participar nas experiências CMS e LHCb do grande acelerador LHC, com responsabilidades no desenvolvimento de detectores, análise de dados e computação, e estudantes brasileiros a realizar teses de mestrado e doutoramento no âmbito destas experiências. Cerca de uma centena de investigadores brasileiros participam em experiências do CERN.
O CERN, fundado em 1954, teve um papel fundamental na reconstrução dos laços entre os diferentes países e da ciência europeia após a segunda guerra mundial, tendo feito seu o lema “Ciência para a Paz”. Hoje com 23 estados membros e 10 membros associados, foi a partir de 2010 que permitiu a associação de países não europeus.
Portugal tornou-se membro do CERN em 1986, pela mão de José Mariano Gago, que no mesmo ano fundou o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), reunindo a então embrionária comunidade de física experimental de partículas em Portugal, com o objectivo de impulsionar o seu desenvolvimento e potenciar a participação do país nesta organização científica internacional, a primeira de que Portugal se tornou membro.
Terminamos lembrando Gaspar Barreira (04/05/1940 — 01/06/2019), fundador do LIP, director do LIP e delegado português ao Conselho do CERN até ao seu falecimento, e Ronald Cintra Shellard (22/07/1948 — 07/12/2021), cientista brasileiro colaborador do CERN desde os anos 1980, amigo próximo de Portugal e do LIP, director do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) durante longos anos, que muito contribuíram, com a sua determinação e empenho, para o sucesso desta jornada.